quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Envelhecimento no século XXI e nossos desafios

Estive no 10º Seminário da Terceira Idade, promovido pela Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e realizado na instituição beneficente Ten Yad, no Bom Retino, na segunda-feira passada (31/8). O tema geral foi "Envelhecimento no século XXI e nossos desafios".

Cerca de 200 pessoas se inscreveram nesse evento, realizado com o propósito de atualizar, capacitar e reciclar profissionais e voluntários, para a contínua melhoria dos serviços oferecidos aos idosos, informou a assessora executiva da Fisesp, Sueli Schreier. 

Os palestrantes confirmaram a fase de transição em que vivemos, com a inversão da pirâmide etária brasileira, fato que já ocorreu nos países desenvolvidos e agora é vivenciado na América Latina. Com a longevidade, é fundamental o sexagenário planejar o futuro, pois a tendência é viver três ou mais décadas além do previsto quando de seu nascimento. Por outro lado, para manter qualidade de vida, não basta cuidar da saúde do organismo, também é primordial lutar por políticas públicas para melhorar as condições socioeconômicas daqueles com mais de 60 anos.

Nas últimas décadas, proporcionalmente, a população brasileira de idosos cresceu mais do que a população do país. Veja os gráficos:
http://douranews.com.br/brasil/item/44824-em-50-anos-percentual-de-idosos-mais-que-dobrou-no-brasil

POLÍTICAS PÚBLICAS
Na abertura do seminário, o vereador Gilberto Natalini (PV) destacou a importância dos debates, como os promovidos pela Fisesp, para a criação de políticas públicas para o bem estar do idoso. Divulgou que estão abertas as inscrições para o 3º Congresso Municipal sobre Envelhecimento Ativo, que será promovido na Câmara de São Paulo, no próximo dia 03 de outubro. Natalini foi um dos organizadores do evento, pois é membro da Comissão do Idoso daquela instituição. Inscrições: http://envelhecimentoativo.com/

RESPEITO
O presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat, destacou o respeito aos velhos. Citou que se fala muito em QI (Quociente de Inteligência) e QE (Quociente Emocional), mas não se pode esquecer a importância do QEx (Quociente Experimental), pois o idoso tem toda a sabedoria que adquiriu em vida e essa é mais eficaz do que a teórica. O respeito ao idoso insere-se nas tradições judaicas. Assim, a Fisesp prestou homenagens a dois alunos de cem anos da Universidade Aberta da Terceira Idade da PUCSP: Eugênia Fischer e Jaime Kuperman.

Rabino David Weitman, vereador Gilberto Natalini, Ricardo Berkiensztat (presidente executivo da Fisesp), Carmem Nahaissi (voluntária) e homenageados: Eugênia Fischer e Jaime Kuperman

Muito simpática, Eugênia enfatizou que a convivência com colegas e professores retarda o envelhecer. E afirmou: "até hoje, quando falam em idoso, eu não penso que é comigo". Jaime, citando o Antigo Testamento, disse que Moises viveu 120 anos e é essa a idade que ele deseja para todos. Depois, leu o texto: "Para todos que nasceram antes de 1945", já conhecido via internet. 
https://avelhiceehumamerda.wordpress.com/

GRATIDÃO
Em seu pronunciamento, o rabino David Weitman salientou a importância da gratidão, sentimento que também integra as tradições judaicas.  Citou que, como as sementes que se transformam em árvores, foram os idosos que criaram as condições para as realizações que agora são vivenciadas. Por isso, tudo que é feito para a terceira idade ainda é pouco, é preciso ensinar aos filhos e aos netos a importância do respeito e da gratidão aos mais velhos.

DESAFIOS
Maria Lúcia Lebrão, médica, mestra e doutora em saúde pública, quando se apresentou, contou: observando a legislação brasileira, ao completar 70 anos de trabalho na Faculdade de Saúde Pública da USP, lhe falaram "até logo". Para não parar, pois tem plena condição para prosseguir sua vida acadêmica, ela é professora titular sênior naquela instituição - trabalha sem remuneração!

Sobre o mercado de trabalho para o idoso, nessa fase de transição, acrescento que a idade é fator de preconceito no setor privado, com exceção de pessoas em posição de poder de mando. Quando estão se aproximando dos 60 anos, profissionais gabaritados, com uma bagagem de mais de 40 anos, enfrentam o preconceito de seus colegas mais jovens. São marginalizados, "esquecidos" e dispensados. Por outro lado, quando se aposentam e deixam de trabalhar, também enfrentam o preconceito da sociedade que questiona: "por que parou se ainda tem saúde?" Vale ressaltar que, mesmo tendo disposição e vontade, o reingresso no mercado é praticamente impossível, pois no país persiste o problema cultural de não se contratar sexagenários.

Maria Lúcia Lebrão

Durante mais de uma hora de palestra, Maria Lúcia conquistou a atenção do público. Entre outros temas, expôs dados da pesquisa SABE (Saúde, Bem Estar e Envelhecimento), que ela coordena na Faculdade de Saúde Público. É um estudo longitudinal de múltiplas coortes (subdivisões) sobre as condições de vida e saúde dos idosos de São Paulo. Considera-se que com o avanço da idade, geralmente, ocorrem comprometimentos cognitivos e funcionais. Por isso, muitos idosos não têm medo de morrer, mas têm medo de ficar incapaz de realizar os cuidados pessoais rotineiros. Outro segmento analisado, nesse estudo, refere-se aos filhos idosos que têm papel de cuidadores de seus pais, situação decorrente da longevidade registrada nas últimas décadas. 

PERFIS DE SAÚDE DAS PESSOAS IDOSAS
=> Saudáveis
=> Necessitando de cuidados agudos
=> Com condições crônicas
=> Com condições crônicas complexas
=> No fim da vida
=> Com necessidades especiais 
=> Com papel de cuidadoras

Entre outros assuntos, Maria Lúcia também destacou que a mulher vive mais do que o homem, portanto, é preciso promover ações específicas para atendê-las. Na sociedade, geralmente, os homens idosos são mais amparados. Os viúvos têm facilidade para se casar novamente e, ainda, é uma tendência da família acolhê-lo. Já a mulher está mais predisposta a morar sozinha e se cuidar. E, neste caso, "qualquer pouco som pode dar tudo errado", basta uma gripe ou uma queda para desestruturar a rotina. São fatores como esses que se enquadram na chamada síndrome da fragilidade (semi-dependência). Outro desafio é a dificuldade econômica.

ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS

Jequitibá Rosa

A imagem do famoso jequitibá rosa, de Santa Rita do Passa Quadro (SP), com mais de três mil anos, ilustrou o início da palestra sobre aspectos biopsicossociais na longevidade, proferida pelo médico Wilson Jacob Filho, diretor do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas e professor titular dessa disciplina na FMUSP.

Para a longevidade, atuam três fatores: genético, comportamental e ambiental. A genética determina uma predisposição, mas observando aspectos comportamentais e ambientais adequados é possível promover envelhecimento saudável. Com esse propósito, o Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas oferece, gratuitamente, curso para o desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e sociais dos indivíduos. As inscrições estão abertas e para participar basta ser adulto com independência para a locomoção. Inscrições: www.gerosaude.com.br

Wilson Jacob Filho
No evento no Ten Yad, novamente, o tema preconceito esteve em pauta. O médico ressaltou que o termo "idoso" ainda é pejorativo, denota "coisa" velha (acabada), mesmo existindo muitos sexagenários com jovialidade. Isso só vai mudar quando a sociedade valorizar a biografia, a experiência do indivíduo.

Como Maria Lúcia, o médico também salientou que não existe um padrão de velhice, a terceira idade é heterogenia. O principal fator para manter o corpo funcional é um programa de atividade física - é extremamente prejudicial o desuso da musculatura. E, sobre o cuidado com idoso, Wilson salientou que paciência e carinho não bastam, é fundamental ter conhecimentos específicos.

Wilson citou pesquisa, realizada nos EUA, para eleger os melhores lugares do mundo para envelhecer (observe: não é para migrar para esses países depois de velho). Foram considerados, basicamente, quatro itens: (1) segurança econômica (incluindo política previdenciária), (2) atendimento à saúde/expectativa de vida, (3) nível de instrução, capacitação e empregabilidade do idoso e (4) situação da sociedade - vida social, segurança física, liberdade cívica e acesso ao transporte público. Despontaram: Suécia, Noruega, Suíça, Canadá e Alemanha.  O Brasil ficou em 31º lugar. Mais informações: http://www.helpage.org/global-agewatch/population-ageing-data/country-ageing-data/?country=0

Concluindo, o médico catedrático salientou que para um envelhecimento com bom nível de qualidade é inexorável ter um planejamento socioeconômico. Finalizou com a frase de Arnaldo Antunes: "A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer".   

PLANOS E EXPERIÊNCIAS
O seminário prosseguiu após o almoço. Foi apresentado o "Plano de Diretrizes do Envelhecimento da Comunidade Judaica", realizado com a parceria da Fisesp. Esse estudo foi desenvolvido pela Angatu, consultoria que atende empresas e organizações que oferecem produtos e serviços para a terceira idade. 

Essa apresentação foi feita pela sócia-diretora de negócios, Denise Mazzaferro, mestra em gerontologia pela PUCSP. Ela discorreu sobre os diferentes tipos de residências que acolhem idosos que não têm condições de morar sozinhos ou com familiares. Um dos exemplos citados foi o moderno Lar Recanto Feliz vinculado à Sociedade Beneficente Alemã. http://larrecantofeliz.com.br/

Lar Recanto Feliz
Finalizando o seminário, foram realizadas palestras sobre experiências inovadoras de entidades assistenciais. Entre os temas, o "Envelhecimento das Pessoas com Deficiência Mental", detalhado pela presidente do Grupo Chaverim, Ester Tarandach.  http://www.grupochaverim.org.br/
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Fotos: reproduções
Lar Recanto Feliz: http://larrecantofeliz.com.br/

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